Como o iraniano Ali Davar criou o aplicativo Zite, que usa inteligência artificial para descobrir o que cada usuário quer ler e monta uma revista personalizada no iPad

Por Maurício Moraes

Ele quer filtrar a web pelos olhos de cada internauta. O iraniano Ali Davar, 38 anos, abandonou a carreira de advogado para descobrir as notícias que você quer ler no iPad. O resultado é o aplicativo Zite. O programa usa inteligência artificial para encontrar na internet as reportagens mais relevantes para cada pessoa, resgatando-as do palheiro do mundo digital. Todo o conteúdo transforma-se em uma revista virtual personalizada. “O iPad é a vitrine perfeita para esse tipo de produto”, disse Davar a INFO. O software destaca os assuntos com mais chances de chamar atenção e aprende com os cliques do usuário. Com o passar do tempo, procura trazer indicações ainda mais precisas.

A startup fundada por Davar tem sede em Vancouver, no Canadá, apenas oito funcionários e já recebeu 4 milhões de dólares de investidores-anjos e fundos de pesquisa governamentais. A quantia permitiu a criação dos algoritmos inteligentes que são a alma do negócio. Disponível para download na App Store da Apple desde março deste ano, o Zite conseguiu se sobressair entre os agregadores de notícias e despertou o interesse das grandes organizações de mídia. Em agosto, apenas cinco meses depois de lançá-lo, a empresa foi comprada pela CNN. A tecnologia será integrada aos serviços da rede de notícias americana, mas a startup vai se manter autônoma. Plataformas como o Android estão entre os projetos futuros.

O Zite surgiu porque, há seis anos, Davar teve uma idéia enquanto cursava a faculdade de direito. Ele mudou-se com a família do Irã para os Estados Unidos ainda menino, no final da década de 1970. Dois anos depois, a família decidiu imigrar outra vez e foi para o Canadá. Davar, os pais e as duas irmãs vivem até hoje em Vancouver. Durante o curso na Universidade da Columbia Britânica, ele começou a trabalhar com bancos de dados jurídicos. “Neles era possível buscar, navegar e fazer descobertas de um modo que era impossível na web”, diz.

Enquanto nos bancos de dados jurídicos as informações estão bem organizadas, na internet reina o caos. “Foi aí que pensei: como deixar a web mais estruturada?”, afirma. Ele começou então a pesquisar uma maneira de ordenar a bagunça. “A faculdade de direito ia bem, mas me pegava distraído e apaixonado por esse projeto”, diz. Frequentemente conversava com alunos de ciências da computação sobre a idéia. Com a ajuda deles, começou a criar os algoritmos inteligentes como uma atividade de meio período. Quando obteve investimento, Davar já atuava como advogado. Resolveu abandonar a carreira e encarar o desafio de virar empreendedor. “Decidi me arriscar. Se falhasse, poderia voltar para o direito.”

Não foi fácil encontrar a melhor maneira de aproveitar o sistema de inteligência artificial desenvolvido. A primeira idéia foi incorporá-lo a uma extensão para navegador, batizada de Worio. Quando o internauta fazia uma busca, o complemento indicava sites relacionados às palavras-chaves digitadas. “Há uma pergunta clássica entre os empreendedores: você está criando um produto ou um recurso? Se está criando um recurso terá problemas, porque é difícil criar um negócio a partir disso”, diz. Era o caso do Worio, que não conseguiu se tornar popular. Davar conclui que, quando alguém faz uma busca, já tem algo em vista, ou seja, a pessoa não está pronta para uma descoberta.

No ano passado, quando percebeu que o Worio não decolaria, resolveu começar de novo. “Pegamos toda a tecnologia desenvolvida em cinco anos e criamos o Zite”, afirma. O grupo testou primeiro o serviço como um aplicativo online. Dessa vez, não demorou para perceber que havia mais chances de sucesso. A mudança de rumo ocorreu graças à orientação de Mark Johnson, então conselheiro da companhia e hoje seu CEO.

Diferentemente de concorrentes como o Flipboard, o Zite não se conecta as redes sociais do usuário para criar uma revista a partir de links compartilhados por amigos. O programa consulta alguns desses sites para identificar os assuntos preferidos do internauta. “O aplicativo aprende à medida que é utilizado. Ele consegue filtrar todo o conteúdo que está disponível e apresenta apenas o que acha importante. Essa personalização é nossa principal diferença”, afirma. “Existe muita informação interessante, mas as pessoas nem sempre sabem como encontrá-la.”Os dados do Facebook, por exemplo, ainda não funcionam bem com os algoritmos e, por isso, não são considerados.

Atrair a atenção dos internautas é uma das principais dificuldades de publicações adaptadas para tablets como o iPad, na opinião de Davar. “Há muito conteúdo de qualidade que não pode ser descoberto, porque as pessoas não sabem que existe. É nisso que as editoras deveriam concentrar suas energias”, diz. Além disso, os internautas não tem tempo sobrando. “Muitas vezes a história certa para uma pessoa não está na primeira página, mas escondida dentro de uma revista. A questão é como entregar o que se deseja.” Como um garimpeiro de notícias eletrônico, o Zite se esforça para dar conta desse desafio.

Como funciona o Zite

1 – O usuário escolhe os temas ou pede para o Zite descobrir seus interesses a partir do Twitter, Google Reader, Delicious e Read It Later

2 – Os algoritmos do Zite buscam notícias ligadas aos temas escolhidos em fontes confiáveis, e o aplicativo monta uma revista personalizada para o leitor

3 – O software monitora as reportagens lidas e usa as informações para afinar as sugestões. Pode-se alterar o modo de exibição e compartilhar itens

Fonte: Revista Info / Novembro 2011

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *