Depois de reciclados, os cinzas (concreto, argamassa, blocos) e os vermelhos (tijolos, cacos, cerâmica), os chamados entulhos nobres da construção civil, podem ser aproveitados também como matéria-prima na agricultura. A constatação é do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Paulo Lasso, em sua tese de doutorado, em que testa a utilização dos resíduos de obras e demolições (RCD-R) como corretivos da acidez do solo. “Os cinzas contém muito calcário, que corrige o pH; e os vermelhos facilitam a retenção da água, essencial para os solos arenosos, que sofrem com a estiagem”, explica Lasso.
O teste inicial foi feito com a cultura da alfafa, fundamental para a alimentação animal e que é muito sensível à falta de água. “A resposta foi maravilhosa”, diz Lasso. “O cinzas equilibraram a parte química da cultura e os vermelhos corrigiram a parte física”, diz. “Essa mistura pode funcionar muito bem para as espécies folhosas cujas culturas necessitam correção do pH”.
Lasso explica que solo ácido é um problema grave no Brasil. “Por mais que sejam utilizados adubos os nutrientes não ficarão disponíveis para as plantas, se o solo tiver muita acidez”, diz Lasso. É aí que entra o calcário, produto encontrado em abundância apenas nas regiões norte e central do Brasil.
Como o calcário virgem não ocorre no Brasil de forma distribuída, acaba custando cinco vezes mais em relação ao contido nos reciclados da construção civil, por causa do transporte, segundo Lasso. “Além disso, o calcário virgem não tem a mesma eficácia do reciclado – é necessária uma quantidade três vezes maior que o reciclado cinza para produzir o mesmo efeito”. Mais: resíduos da construção civil são encontrados em qualquer lugar do Brasil, com abundância.
Tratar dos resíduos das demolições e das construções e ao mesmo tempo participar do esforço de compensação ambiental é o trabalho da Companhia de Restauro, especializada na recuperação de monumentos e de edificações. No caso de um antigo cotonifício na Mooca, em São Paulo, transformado em supermercado, a equipe fez um inventário dos materiais, mão de obra, deslocamento de equipamentos, transporte de funcionários, calculou os gases de efeito estufa produzidos e canalizou tudo para ganhos ambientais. O resultado foram 50 árvores plantadas numa área de preservação permanente em Campinas (SP). (S.T.)
Fonte: Valor Econômico
Fonte: Solos Reciclagem