Graziela Delalibera

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Vieira, da dupla Vieira e Vierinha, certa vez contou ao pesquisador e escritor Romildo Sant’Anna que era comum as irmãs Mary e Marilene, ainda bem jovens, voltarem dormindo no banco de trás de um Fusca, depois de apresentações pelo sertão paulista, em praças, circos, quermesses, carrocerias de caminhões ou terreirões de fazendas. Hoje, com mais de 50 anos de carreira, Mary e Marilene, as Irmãs Galvão, ou, simplesmente, As Galvão, são homenageadas por Sant’Anna em um dos cinco novos capítulos acrescentados à terceira edição de seu livro “A Moda é Viola – Ensaio do Cantar Caipira”, lançada hoje, às 20h30, na Câmara Municipal.

A obra conta a história da música caipira brasileira e de seu principal representante, a viola, desde suas origens, no século 12 – remontando períodos anteriores ao descobrimento do Brasil – aos dias atuais e, pela primeira vez, joga luz sobre a presença feminina. “O que As Galvão fizeram foi algo absolutamente de vanguarda na época. Não era a praia feminina sair por aí cantando na companhia de homens, isso há 50, 60 anos. Trato dessa questão mais como uma homenagem, porque a voz continua masculina, porque o repertório delas é um repertório em que o ‘eu’ que fala é um ‘eu’ masculino, mas a presença é feminina.

Isso desbravando todas as dificuldades que havia na época, de sair por aí duas moças, vestindo essa camisa da moda caipira, da moda de viola. É algo revolucionário na expressão artística e cultural brasileira do século 20, principalmente da música rural, ambiente que é muito mais conservador”, fala o autor. A presença da cantora e folclorista Inezita Barroso, que apresentou o programa “Viola, minha viola”, a segunda maior audiência da TV Cultura, durante 35 anos, também é citada por Sant’Anna na obra. “Era uma mulher de posses, com uma formação universitária, e a casa dela um reduto de poetas e intelectuais na década de 1950”, pontua.

Ampliada em mais de 100 páginas, a terceira edição de “A Moda é Viola” traz na capa e contracapa ilustrações do artista plástico Jocelino Soares, que retrata uma violeira em um ambiente rural, criação a pedido de Sant’Anna. O prefácio é assinado pelo cineasta Reinaldo Volpato, amigo do autor, que dirigiu o documentário de longa-metragem “A Moda é Viola”, baseado na obra, lançado em 2013. Sant’Anna, que atua como narrador no filme e gravou várias entrevistas com Volpato para a produção, revela que algumas análises presentes no documentário foram retrabalhadas nesta publicação. A primeira edição do livro foi lançada em 2000, no programa “Viola, minha viola”, quando comemoravam-se os 500 anos do Brasil.

Em um extenso trabalho de pesquisa, Sant’Anna buscou cerca de 700 músicas e as transcreveu no primeiro lançamento. A segunda edição, ampliada, foi publicada em 2009. O livro tem como base sua tese de livre-docência, e é referência bibliográfica para trabalhos acadêmicos nas áreas de literatura luso-brasileira e hispânica, música popular e artes em geral. O Google Acadêmico, que rastreia trabalhos a partir de 2011, registra mais de 50 referências.

Sant’Anna conta que nunca parou de aprofundar-se na pesquisa e que, nesta terceira edição, amplia alguns capítulos e traz dez músicas a mais que na anterior. Outra novidade é um capítulo dedicado ao sertanejo universitário. “Quando fiz a primeira edição não havia sertanejo universitário. Tenho um olhar crítico sobre essa coisa que é muito arrebatadora de multidões, embora não tenha nada a ver com a música caipira, ainda que use o nome de caipira, está ligado a eventos próximos”, diz ele, que já trabalha numa quarta edição.

Serviço

“A Moda é Viola – Ensaio do Cantar Caipira”, de Romildo Sant’Anna, terceira edição ampliada. 552 páginas. Lançamento hoje, às 20h30, na Câmara de Rio Preto

Fonte: Diário da Região

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