Um prédio pode contar um pouco da história de uma cidade. Considerados patrimônios, esses locais já serviram de abrigo para instituições, empresas, moradia de pessoas importantes, locais religiosos entre outras funções.

Piracicaba possui 70 prédios tombados, seja de forma municipal, estadual ou federal. Os patrimônios destacam um pedaço da história piracicabana, cada um em sua época. Assim, o JP vai destacar ao longo de uma série alguns dos principais locais onde ainda pulsa a memória do município.

De acordo com o diretor do departamento de patrimônio histórico do Ipplap (Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba), Marcelo Cachioni, a classificação dos patrimônios históricos e culturais se enquadram em bens materiais, imateriais e naturais.

“Os bens materiais são os imóveis ou móveis, como é o caso dos prédios, casas, espaços em Piracicaba. Os bens imateriais são as manifestações culturais, como a capoeira, por exemplo. Já os bens naturais são provenientes da natureza, como o Pantanal”, disse.

Cachioni explicou ainda como um bem se torna patrimônio. “Para decretar que um bem é patrimônio é necessário comprovar a necessidade da sua preservação para memória e conhecimento das futuras gerações, ou seja, esses bens têm um contexto histórico e cultural que precisam ser preservados para as próximas gerações da cidade. Tem que apresentar algum valor histórico, ambiental, cultural, arquitetônico, arqueológico, de turismo ou até mesmo afetivo”, contou o diretor.

Para classificar e realizar os processos de tombamento, três instituições são responsáveis. O Codepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba) é municipal. O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico), é de âmbito estadual em São Paulo, e, por fim, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), contempla os bens em nível nacional.

Normalmente, as edificações são tombadas patrimônios como forma de preservação da história da cidade, que contam fases da evolução econômica e cultural.

O Catálogo da Exposição Itinerante — Desenhando o Patrimônio Cultural de Piracicaba, organizado por Cachioni e publicado pelo Ipplap em 2011, mostra quais são os 70 bens tombados na cidade, dos quais o JP elencou três para a primeira reportagem: Casa do Povoador, Museu Prudente de Moraes e Passo do Senhor do Horto.

RESIDÊNCIA DO MUNICÍPIO — A mais famosa casa da cidade foi tombada patrimônio pelo Codepac e pelo Condephaat.

O catálogo diz que o monumento é “um dos ícones da cidade de Piracicaba; foi construída em taipa de mão (pau a pique), e se configura como uma das últimas remanescentes da técnica, no perímetro do município, tendo resistido ao tempo graças às sólidas bases de pedra e estruturas de madeira. De residência familiar, entreposto de sal, a asilo de órfãos, a Casa do Povoador foi construída no final do século 18 e início do 19, de acordo com sua técnica construtiva baseada na tradição paulista bandeirista, passou por diversos proprietários e funções. Em 1945, a Prefeitura Municipal adquiriu o imóvel, considerado pelo prefeito Pacheco e Chaves como bem de utilidade pública. Em 1967, nas comemorações de 200 anos de Piracicaba, a Casa do Povoador passou a ser reconhecida como símbolo da cidade. Finalmente, em 1969, foi tombada pelo Condephaat, como Monumento Histórico do Estado de São Paulo”.

MUSEU HISTÓRICO E PEDAGÓGICO PRUDENTE DE MORAES — A casa que hoje abriga o museu, pertenceu ao primeiro presidente civil do Brasil, Prudente de Moraes.

Muitos dos utensílios da época permanecem em exposição, relembrando e contando os momentos em que viveu ali.

O catálogo conta que “em 9 de novembro de 1869, o Dr. Prudente a adquiriu e nela viveu por 32 anos, de 1870 a 1902, até falecer. Neste período, além de ter sido a casa do primeiro presidente civil brasileiro, serviu para encontros políticos do período histórico da Proclamação da República. A sede do museu é uma construção típica das casas térreas urbanas da segunda metade do século 19 no Brasil. Anteriormente ao museu, a casa foi sede da antiga Faculdade de Odontologia Washington Luiz, em 1919, mudando de nome em 1932, para Prudente de Moraes, e encerrando suas atividades em 1935. Em 1940, o imóvel passou à Prefeitura de Piracicaba. Fundado em 1956, o museu é um dos mais antigos do tipo em São Paulo, e reúne peças que pertenceram ao ex-presidente, retratando a época da formação da República, além de muitas outras peças de acervo que forneceram subsídios para compreensão da história de Piracicaba e do Brasil. Em 2010, passou a ser municipal após obras de remodelação e restauro promovidos pelo Estado de São Paulo”.

A diretora e coordenadora do museu, Renata Gava, comentou que a casa de Prudente de Moraes, assim como seu acervo, tem grande relevância como patrimônio cultural, pois se configura como vestígio social, econômico, histórico e cultural representativo de uma época, não apenas para a cidade mas para o Estado e Nação.

“A presença do Prudente de Moraes é muito marcante no museu, não apenas pela expografia que contempla sua vida pública e privada, mas pela presença constante dos descendentes de Prudente”.

O Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes é o único bem da cidade tombado patrimônio pelo Codepac, Condephaat e pelo Iphan.

PASSO DO SENHOR DO HORTO — Pouco percebida na cidade, a capela onde está o chamado Passo do Senhor do Horto (ou Passo da Via Sacra de São Vicente de Paulo), é tombado patrimônio pelo Codepac.

O catálogo explica que o Passo “foi a última obra de Miguel Dutra em Piracicaba e se destaca pela mistura de elementos da arquitetura neoclássica, barroca e ainda apresenta a ogiva tradicional do gótico. Talvez seja uma das obras precursoras do ecletismo arquitetônico que viria a reconfigurar a cidade no século 20. É um dos poucos remanescentes deste tipo de construção (além de outro existente em São Sebastião), ligado à devoção católica do período imperial de São Paulo. É remanescente de um conjunto de 12 passos correspondentes às 12 estações da Via Sacra, visitados pela população durante a Semana Santa e Domingo de Ramos. Os demais eram adaptados nas janelas das residências, e removidos após as datas”.

Monsenhor Jamil Nassif Abib, ex-pároco da Catedral de Santo Antônio, ressaltou que existem muitas versões sobre a verdadeira história do Passo.

“No segundo semestre de 2013, a Prefeitura Municipal em conjunto com a Secretaria de Obras e a Secretaria da Ação Cultural decidiram realizar a restauração do Passo, que foi a melhor e a mais bem feita, terminado no segundo semestre de 2014. É interessante destacar que é o único remanescente no Estado de São Paulo e que, por isso, necessita ser preservado e ter uma atenção maior da população”, disse.

Fonte: Jornal de Piracicaba 

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