“Desde a primeira década dos anos 2000, a maioria das pessoas passou a praticar atividades físicas regularmente como forma de cuidar da saúde física e mental. Por isso, as praças públicas voltaram a ganhar o status de espaço de convivência social, mas com algumas releituras das antigas praças. É o antigo em formato de novo, onde as pessoas podem praticar atividade física, lúdica ou hobby, cuidando da saúde mental ou até mesmo aproveitar o tempo com a família, sem pagar por isso. Como arquiteta e urbanista há mais de 15 anos, noto que as praças voltam com toda força, oferecendo um convívio social que gera melhor qualidade de vida, além de bem-estar físico e psíquico. Na loteadora fundada pelo meu pai, adotamos o modelo em nossos empreendimentos há 4 anos. No mais recente, localizado em Hortolândia, no interior do estado de São Paulo, uma das praças que estamos desenvolvendo é a “Inspire-se”, que promove maior interação com os nossos cinco sentidos.
Ao passear pelo jardim de temperos, por exemplo, o morador terá o olfato e o paladar estimulados com aromas e sabores. Já o espaço tato será em formato de “mão”, composto por diferentes tipos de pisos como: borracha, areia, cimento, dentre outros, para proporcionar diversas sensações ao toque. Haverá também uma cortina de bambus que estará disposta em formato de uma “orelha” para percepção dos sons. O desenvolvimento destes espaços não é uma tarefa fácil. Diversos fatores devem ser
considerados ao montar um projeto desse tipo. Levamos em consideração aspectos como público – desde sua faixa etária até sua classe social –, clima da região, decli- vidade do terreno e costumes regionais, já que cada lugar tem suas particularidades e carências. Para buscar inspiração, viajo para diferentes lugares sempre que posso. É enriquecedor viajar com o olhar de arquiteto, já que consigo observar detalhes que, de outra forma, passariam despercebidos. Presto atenção em como os espaços estão sendo usados, o público frequentador, além de ver as cores dos equipamentos, o design dos mobiliários e os tipos de vegetação. Há praças muito bem empregadas em inúmeros lugares, mas principalmente na Europa, onde os espaços são reduzidos e trazem o projeto para uma escala humana.
São nos simples desenhos que se tem mais sucesso, como rampas gramadas para as crianças escorregarem, pisos de diferentes texturas, espaços para piqueniques, hortas e pomares comunitários. Em outro empreendimento localizado em Americana, me inspirei em Paris para criação de uma ampla praça com ruas circulares e sistema viário concêntrico – que dá a percepção de infinito. Há oportunidades para o desenvolvimento destas áreas em diversas regiões do Brasil. O público pede, cada vez mais, por melhoria na qualidade de vida em locais próximos de casa, sem pagar pelas horas de lazer. As praças, portanto, são mais do que uma fonte de respiro para os centros urbanos, ao mostrar seu potencial como espaço democrático para convivência entre famílias e amigos. As árvores e as plantas dividem espaço com uma infraestrutura que visa também ao conforto e tranquilidade da população em meio à correria do dia a dia.”
Raquel Dei Santi
Arquiteta e Urbanista
da Cemara Loteamentos