
“Um mundo em ebulição. Um povo submetido, vivendo sob o jugo de uma potência estrangeira, que podia encarcerar, açoitar ou executar a seu bel-prazer”. Assim começa a história da 26ª Paixão Cristo. Uma introdução que reflete a necessidade de mudança daquela sociedade e a importância de uma nova visão de mundo, que surgiu com Jesus Cristo.
São as histórias que ensinam o ser humano a viver e que transmitem conhecimento para que as novas gerações vivam melhor. Não por acaso, são elas também que têm o dom de emocionar.
O Jornal de Piracicaba apresenta algumas destas histórias, que dão sentido tanto à encenação quanto à vida.
A Paixão de Cristo é constituída por muitos anônimos. Fazem parte do elenco 380 pessoas, além de outras 80 que atuam na produção. Alguns têm o teatro como carreira ou atividade paralela à profissional, outros são voluntários que se sentem no ambiente da encenação acolhidos.
A cada ano se renovam as histórias de quem acabou de entrar, de quem tem mantido a experiência e de quem já é veterano na encenação.
Segundo o diretor desta edição, Raul Rozados, “o espetáculo reúne representantes de quase todos os grupos teatrais da cidade”.
Pelo terceiro ano consecutivo, Fábio Malosso, interpreta Jesus. O ator que iniciou suas atividades teatrais no espetáculo, atualmente faz parte de outros grupos da cidade, comprovando a importância da Paixão de Cristo na formação de atores.
Sobre esta edição ele contou que que se sente mais preparado em relação às outras. “Minha preparação está acontecendo há três anos. Mas acho que emoção triplica.”
Digão Vicente, 38, participa pela primeira vez com um personagem de destaque, Pôncio Pilatos. Ele contou que fez o teste a convite de amigos. “Tenho uma família católica, que já participou de via crucis, então é muito especial integrar a montagem”.
O dublador e locutor relatou que estava se sentindo preparado com os ensaios em sala, até chegar no Engenho Central. “Tudo é tão grande e este tamanho assusta. Mas estou muito feliz”, afirmou. Residente em Sumaré, ele contou que veio para Piracicaba para poder “respirar a arte do teatro”.
Maxianne dos Santos, 33, tem a família envolvida na encenação. Atualmente ela interpreta o povo. “São 18 anos que participo. Eu vi no jornal e resolvi que queria fazer. Só que eu era menor então minha irmã teve que me acompanhar. Ela só não está este ano porque logo terá uma mais uma filha”.
Maxianne ressaltou que a vida dela foi construída com a Paixão de Cristo. “Aqui eu conheci meu primeiro namorado e fiz amizades. Nos cuidamos como uma família”.
A figurante também está fazendo a codireção desta edição, ajudando o diretor Raul Rozados a “tomar conta do povo de Jerusalém”.
O cenógrafo Julio Birer Lourenço está no espetáculo desde 2008 e há quatro anos dedica-se a deixar o cenário e figurino condizente com a época e com a encenação. Neste ano ele teve o desafio de fazer a cidadezinha onde fica o povo, uma série de pequenas casas que revelam o cotidiano daquelas pessoas.
“Eu já trabalhava com teatro quando morava em Santa Catarina. Mudei para Piracicaba e comecei a fazer parte o espetáculo até que me convidaram para fazer este trabalho. Prefiro agora ficar de fora para ver melhor”. Ele contou que é uma tarefa que exige imaginação. Existe um cenário já pronto, mas os detalhes cabe a ele construir de acordo com os pedidos dos diretores e produção.
Mesmo que o trabalho seja desafiador, ele ressalta que se sente compensado. “O público enxerga tudo. Mas no final é recompensador ouvir os aplausos.”
A Paixão de Cristo também significa futuro nas artes. De acordo com o aposentado Antônio Sampaio, 71, que está interpretando o apóstolo Pedro, ele foi convidado o ano passado por um grupo de teatro. “Eles queriam uma pessoas com o meu perfil e acabaram me encontrando aqui”. Ele contou que a família o incentiva e tem orgulho desta sua atividade.
ENCONTRO — A história do adolescente Leonardo Moraes, 17, reúne emoção, a conquista de um sonho e a superação de todos os dias conviver com a saudade. Ele contou que sempre foi incentivado pela mãe a fazer teatro. “A minha história com a Paixão de Cristo e com o teatro envolve o sonho dela. Minha mãe dizia que queria que eu atuasse no espetáculo e me incentivava também a entrar no teatro”.
Esse estímulo aconteceu há cerca de seis anos, quando ele tinha apenas 11 de idade. Apesar de o desejo dela ter se tornado realidade, ela nunca conseguiu o ver atuando. “Ela morreu um mês antes da minha primeira estreia.”
Na época em que ela ainda estava viva, Moraes tinha entrado no programa Movimentação Cultural da Semac (Secretaria Municipal da Ação Cultural), onde fez teatro com as oficineiras Patrícia Lopes e Eva Prudêncio. “Depois entrei na Ceta (Companhia Estável de Teatro Amador) e atualmente também estou no curso de artes cênicas do Senac”.
O ator, que está interpretando Satanás na Paixão de Cristo, relatou que a primeira vez que participou da encenação ficou muito emocionado ao lembrar do sonho da mãe. “É muito difícil, mas também gratificante. Sinto que ela teria orgulho de mim. Por esta razão, a montagem é mais Paixão de Cristo, é uma motivação, faço porque quero ser ator e faço por ela.”
SERVIÇO — 26ª Paixão de Cristo de Piracicaba. De 29/03 a 5/04, às 20h, no Engenho Central (avenida Maurice Allain, 454). Ingressos: R$ 10 e 20 (arquibancada); R$ 30 a R$ 50 (camarote individual); R$ 250 a 450 (camarote para 10 pessoas). Compras online: bilheteriarapida.com.br/paixaodecristo. Estacionamento: R$ 10 e R$ 20. Informações: (19) 3419-7888 (Guarantã).
Fonte: Jornal de Piracicaba